Ontem à noite, eu ainda tentava remover as últimas marcas de lama em nossas jaquetas. Aquelas por conta dos tombos na selva de San Blás e do atoleiro que passamos por toda a Interoceânica.
Hoje, estou arrumando as malas, mais uma vez.
Nem sei "quantas" já montei e desmontei nossas malas.
Acho que .... praticamente todos os dias desde 02 de abril.
Em casa, lá em Nova York, eu dirigia boa parte das coisas, a casa e o fogão.
Há mais de 3 meses, quem dirige é o Lúcio. Nossa casa "duas rodas" cigana e sem fogão.
Virei Garupa. Nem por isso, menos ocupada.
Pelo contrário. Novo status: novas funções.
Não piloto a Dedete por uma razão bem simples.
Já ouviu falar em grandeza que expressa a distância entre dois pontos ?
Não existe unidade de medida que me faça tocar o chão com a ponta dos pés, enquanto estou sentada numa moto, ainda mais nela.
Então ..... o que uma Catatau faz numa super viagem-aventura de moto de 3 meses?
À bordo da moto, a Catatau vira garupa e cumpre com suas funções básicas.
1 - Função Canivete Magaiver:
O garupa, de nascença, tem por obrigação arrumar e carregar as malas, lustrar os capacetes e ajudar no ajuste e na lubrificação da corrente da moto, custe o que custar.
2 - Sem direito a equívocos, deve exercer a Função Navegador:
Na véspera, decora mapas. No dia seguinte, procura as placas.
O garupa tem sempre que estar ligado. Olhar pra frente, pros lados e pra trás.
É ele quem normalmente detecta os faróis-surpresas (aqueles que aparecem no meio do nada) ou os faróis-caolhos (aqueles com uma luz queimada, geralmente a vermelha em seu desfavor).
3 - É na Função Cientista, especificamente no estudo da Força x Resultado, que gasta todo seu fosfato.
Quanto ao "espaço físico", o garupa precisa ser um grande entendedor das relações espaciais entre os vários objetos.
É ele quem analisa a largura do corredor formado entre dois ônibus e avisa, com um só GRITO, que será estrupiada a lateral de uma das malas.
Já em relação ao "espaço sideral", seu reflexo "prensa-pernas" deve ser aguçadíssimo, só assim evita ser catapultado em cada lombada mal calculada.
4 - Enquanto tesoureiro, o garupa tem por obrigação pagar os pedágios e controlar o narcisismo que costuma lhe ser próprio.
Na ordem, ele tira a luva, abre a jaqueta, saca e equilibra as moedas, tudo isso com uma única mão e com a moto ainda em movimento, é claro.
Mesmo sem ninguém ver, faz cara de metido e curte o próprio reflexo no capacete da frente.
Depois, já com a moto parada bem ao lado da janelinha, o convencido dá um sorrisinho besta pro caixa, estica o braço e, como NUNCA ALCANÇA nada, deixa cair as moedas no chão amargando cara de "Ai, que droga, agora todo mundo viu."
5 - E, dispensando maiores comentários (batam os tambores) .........
a principal,
a notável,
a lendária e exclusiva atribuição do Garupa:
SERVIR DE MARCHA-RÉ !!
"Linda, dá uma empurradinha na moto pra trás ?"
Essa é uma homenagem descontraída para todos os garupas. Aqueles "seres" que sabem curtir a vida de uma posição privilegiada.
"2 UP", como se diz em inglês, por essas estradas que deixamos para trás e por tantas outras que ainda virão.
Por mais de 3 meses, não tivemos endereço;
Por mais de 3 meses, nossas necessidades se supriram com 3 pequenas malas;
Por mais de 3 meses, dormimos cada noite em uma cama diferente da noite anterior;
Por mais de 3 meses, fomos "Piloto & Garupa", realizando mais um sonho e fortalecendo nossa própria história.
Da Quinta pra Nove foi, é e sempre será DEZ !!
Garupa em sua "Função No. 6"